Pequeno histórico da imigração japonesa no Brasil | Primeiros anos
Mas nos primeiros anos de Brasil houve muitos atritos e conflitos com os novos imigrantes e os proprietários. Numa visita, dez anos depois, à Fazenda Dumont, uma das seis de destino dos primeiros imigrantes, constataram-se:
1º) Más condições de habitação e alimentação, que os imigrantes não podiam sequer imaginar.
2º) Dificuldade de entendimento entre os imigrantes e a administração da fazenda, por causa da barreira da língua e da total diferença de usos e costumes.
3º) Cafeeiros velhos, de reduzida produtividade, redundavam em colheita escassa e rendimento muito abaixo do prometido aos imigrantes pelos agentes de emigração.
4º) Demolição do complexo de superioridade de imigrantes. Desinformados sobre a realidade brasileira e, ao serem atirados num ambiente de péssimas condições de vida, esse sentimento feneceu diante das tremendas dificuldades (Eles se julgavam súditos de uma potência de primeira categoria, depois das vitórias do Japão nas guerras contra a China (1894-95) e contra a Rússia (1904-05).
5º) Soma-se a tudo isso o descontentamento em relação à companhia de emigração, que os iludira com falsa propaganda sobre a facilidade de ganhar dinheiro no Brasil (ibidem p. 70).
De fato, as companhias nipônicas falaram em árvores que davam dinheiro era só apanhar, referindo-se ao cafeeiro – induzindo-os ao erro. As expectativas de ganho eram enormes. Calculavam que cada trabalhador colheria 5 sacos, 15 a família, a 30 sens o saco, ganhariam no final do dia 4 yens e 50 sens (1 yen = 100 sens). Num mês de 30 dias trabalhados, teriam a pequena fortuna de 135 yens. Nessa mesma época, um trabalhador rural no Japão ganhava por dia 20 sens com refeição. Em 30 dias trabalhados, teria apenas 6 yens, apenas 13% do que ganharia colhendo café em São Paulo (ibidem p. 71).
Mas a realidade dos ganhos estava muito aquém do esperado. A família conseguia colher apenas 1 ou 2 sacos ao dia, embora perseverassem da madrugada até ao cair da noite. A honra os animava ao trabalho, pois ao deixarem sua pátria e seus entes queridos no sacrifício, prometeram-lhes voltar breve e endinheirados. Representantes da companhia de emigração chegaram a ser recebidos a lanças feitas de bambu, enxadas e foices (ibidem p. 72).
A alimentação era de todo inadequada ao paladar japonês: arroz, que cozido ficava solto, feijão e produtos salgados como carne, sardinha e bacalhau. Na ausência de verduras, improvisavam-se sopas com ingredientes do mato: picão, caruru e maxixe; fazia-se o tsukemono – conserva de legumes – com mamão verde salgado. Subnutridos, houve desenvolvimento defeituoso de crianças, morte por diarréia amebiana, e vários casos de malária. As casas eram de chão batido, não tinham mobília, cama, nem banheiro. As necessidades eram satisfeitas no mato, atrás das bananeiras ou no cafezal (ibidem p. 72-73).
Mesmo em meio às adversidades e sofrimento, o imigrante encontrava inspiração para registrar em haikai (poema de 17 sílabas) sua melancolia:
Yuuzare-ya kokage ni naite koohii mogi
Anoitecer: à sombra d’árvore choro colhendo café
Hyôkotsu (ibidem p. 73)
Escrevia tanka (poema de 31 sílabas) também:
Yama koya no yashi no kabe yori
Nagare komu tsuki no hikari ni
Waga mi wa hieru
A luz do luar entrando pela parede
De juçara da choça feita no mato
Refrigera meu corpo
Shofu-ken, 1925
Yuu batake kuwa wo tomezaru
Oya no te wo miiru kodomo ni
Tasogare fukashi
O lusco-fusco aprofunda
A figura do menino olhando
As mãos do pai que não larga a enxada.
Bosanjin, 1928 (ibidem p. 108)
texto integral: pequeno histórico da imigração
Bibliografia
AZEVEDO, Aluisio. O Japão. Roswitha Kempf: São Paulo, 1984.
BUENO, Eduardo. História do Brasil. Empresa Folha da Manhã S. A: São Paulo, 1997
HARO, Martim Afonso P. de (org). Ilha de Santa Catarina – Relato de viajantes estrangeiros nos séculos XVIII e XIX. UFSC: Florianópolis, 1996.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE CULTURA JAPONESA. Uma Epopeia Moderna. Hucitec: São Paulo, 1992.
VICENTINO, Cláudio e DORIGO Gianpaolo. História para o ensino médio. Scipione: São Paulo, 2002.