Pequeno histórico da imigração japonesa no Brasil | Primeiras impressões dos brasileiros
E que impressão tiveram os brasileiros quando viram pela primeira vez aqueles imigrantes?
J. Amândio Sobral, inspetor da Secretaria de Agricultura, órgão responsável pela imigração no Estado de São Paulo, em artigo de 26 de junho de 1908 do Correio Paulistano, escreveu (grafia da época):
O vapor Kasato Maru trouxe para o Estado de S.Paulo, 781 japonezes, que constituem a primeira leva da quantidade que deve trazer a Companhia Japonesa de Imigração e Colonização, que contractou com o Estado de S. Paulo a introdução de 3000 famílias […]as suas camaras e mais acomodações apresentavam uma limpeza inexcedível. É preciso notar que se trata de gente de humilde camada social do Japão. Pois houve em Santos quem afirmasse que o navio japonês apresentava em sua 3ª classe mais asseio e limpeza que qualquer transatlântico europeu na 1ª classe. […]Ao desembarcarem na Hospedaria de Imigrantes saíram todos dos vagões na maior ordem e, depois de deixarem estes, não se viu no pavimento um só cuspo, uma casca de fruta, em suma, uma coisa qualquer que denotasse falta de asseio por parte de quem neles veiu. […]Estavam todos vestidos, homens e mulheres vestidos á europea; eles de chapéu ou bonet, e ellas de sáia e camizeta pegada á sáia.[…]Muitos traziam bandeiras pequenas de seda, numa pequena haste de bambú pintado e lança de metal amarelo. Essas bandeiras foram trazidas aos pares: uma branca com um círculo vermelho no meio, e a outra auri- verde: a do Japão e a do Brasil. Esta primeira leva de imigrantes japonezes entrou em nossa terra com bandeiras brasileiras de seda, feitas no Japão, e trazidas de propósito para nos serem amáveis. Delicadeza fina, reveladora de uma educação apreciável….Têm feito suas refeições sempre na melhor ordem e, apesar de os últimos as fazerem duas horas depois dos primeiros, sem um grito de gaiatice, um sinal de impaciência ou uma voz de protesto.[…]Depois de cada refeição (que dura de uma e meia a duas horas), o pavimento do salão está como antes della. Os dormitórios quasi não precisam ser varridos.[…]Si esta gente, que é toda de trabalho, for neste o que é no asseio, (nunca veio pela imigração gente tão asseada), na ordem e na docilidade, a riqueza paulista terá no japonez um elemento de produção que nada deixará a desejar. A raça é muito differente, mas não inferior. Não façamos, antes do tempo, juizos temerarios a respeito da acção do japonez no trabalho nacional (KIYOTANI , YAMASHIRO in SBCJ, pág. 66-67-68).
Não faltaram também opiniões contrárias. No dia seguinte ao desembarque, o jornal “A Tribuna de Santos” alertava sobre o perigo da introdução de “amarelos”, e “O Diário de S. Paulo”, noticiava homicídio ocorrido a bordo do Kasato Maru, sem precisar detalhes. (Tomoo Handa in SBCJ, 1992, p. 69).
texto integral: pequeno histórico da imigração
Bibliografia
AZEVEDO, Aluisio. O Japão. Roswitha Kempf: São Paulo, 1984.
BUENO, Eduardo. História do Brasil. Empresa Folha da Manhã S. A: São Paulo, 1997
HARO, Martim Afonso P. de (org). Ilha de Santa Catarina – Relato de viajantes estrangeiros nos séculos XVIII e XIX. UFSC: Florianópolis, 1996.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE CULTURA JAPONESA. Uma Epopeia Moderna. Hucitec: São Paulo, 1992.
VICENTINO, Cláudio e DORIGO Gianpaolo. História para o ensino médio. Scipione: São Paulo, 2002.
One thought on “Pequeno histórico da imigração japonesa no Brasil | Primeiras impressões dos brasileiros”
Eu tenho a impressão de que houve muito mais reações negativas do que positivas, motivadas principalmente por preconceito.