O Caminho de Shikoku (四国), a renovação
O Japão é formado por mais de 3 mil ilhas, sendo as 4 principais, Honshu, Kyushu, Hokkaido e Shikoku. Sobre esta última ilha, o nosso leitor Edson Luiz Sardinha, solicitou mais informações sobre o caminho de Shikoku. Nós do NIPOCULTURA pouco sabíamos sobre o assunto e pesquisamos. Agradecemos ao Edson pela sua mensagem pois o assunto é realmente interessante.
Haruna Koide
Editora do NIPOCULTURA
O caminho de Shikoku é composto por 88 templos e tem aproximadamente 1400 quilômetros de extensão. É procurado pelos peregrinos principalmente para renovação de suas vidas.
Diz a lenda que a ilha de Shikoku, era governada por um senhor rico e poderoso chamado Emon Saburo. Tinha os cofres cheios mas um coração frio e mal sabia o que era compaixão. As pessoas que viviam em suas terras só podiam esperar por uma coisa: ele iria explorá-las cada vez mais.
Certo dia um monge chegou no portão da mansão e solicitou que o poderoso Saburo colocasse um pouco de comida em sua tigela. Imediatamente o monge foi mandado embora. No dia seguinte, a cena se repetiu e Saburo se irritou: colocou fezes humanas na tigela do monge e dispensou-o novamente. Isso se repetiu por dias até que no oitavo dia, Saburo, furioso, pegou o seu bastão e golpeou a tigela do monge, a qual partiu-se em 8 pedaços.
Além da lenda, não existem relatos da existência de Emon Saburo, mas o monge se chamava Kobo Daishi (professor/santo que difunde os ensinamentos de buda) e viveu na ilha por muito tempo. Daishi nasceu no dia 15 de junho de 774 em Kagawa, região nordeste de Shikoku (no templo número 75). Aos 30 anos tornou-se monge budista e foi para a China, onde se tornou o oitavo patriarca da seita budista Shingon. Em seus últimos anos de vida, Daishi foi homenageado pelo imperador, recebendo o cargo de gerente do templo Toji, localizado em Kyoto.
O monge não voltou após o último incidente com Saburo, cujo filho, misteriosamente, morreu no dia seguinte. Enquanto ainda a família velava o corpo do primogênito, o segundo filho também falece e assim, morreram os 8 filhos do governador. Ao rejeitar a chance de fazer o bem ao monge pedinte, Saburo deu início à punição por todas as suas malfeitorias: ele não deixaria herdeiros e sua família acabaria ali.
Segundo relatos, nas proximidades do local onde Emon Saburo viveu, existem curiosos 8 pequenos morros, cada um com uma estátua de Jizo (patrono budista das crianças). Arqueólogos afirmam que estas modificações no solo são originárias da época em que Daishi viveu.
No budismo, o número 8 é sagrado. Representa solidez, a finalização de um ciclo, os oito cantos de um cubo. Alguns cristãos consideram este número como símbolo da harmonia. No tarot é significado de força, movimento, mudança e nova situação.
Saburo, arrasado e desesperado, saiu a procura do monge para implorar pelo seu perdão. Caminhou por anos e quando estava debilitado fisicamente, decidiu fazer o caminho inverso. Ao invés de correr atrás dele, iria ao encontro do monge. Em seus últimos dias, quando já estava quase morrendo, Saburo encontrou Daishi. O então frágil governador foi perdoado pelo monge e ganhou o direito a um último pedido. Saburo pediu para que ele nascesse novamente como governador de sua província para que ele pudesse ajudar as pessoas e recompensar toda a sua crueldade praticada na vida presente. O monge pegou uma pequena pedra, escreveu algo e colocou-a na palma da mão do governador.
A morte é muito presente tanto na lenda quanto no próprio caminho de Shikoku: nos anos 70 e 80 um bispo de Los Angeles – EUA chamado Miyata, perdeu 2 membros de sua excursão. Os peregrinos vestem roupas brancas para percorrer o caminho (branco é a cor do luto no oriente). Até o nome Shikoku pode ser interpretado como “país da morte”. Mas universalmente, a morte seja ela espiritual ou física, representa o caminho para uma nova vida. Aqueles que percorrem o caminho esperam completar a jornada e sair de Shikoku com a vida renovada, assim como aconteceu com o último pedido de Emon Saburo.
Nove meses depois, o bebê do governador de Iyo-a nasceu, curiosamente com a mão fechada. Muitos médicos examinaram a criança e a medicaram, mas nada acontecia, até que um certo dia solicitaram a ajuda de um padre. Através de uma oração a criança abriu a mão lentamente e surpreendeu a todos. O bebê segurava uma pedra com a seguinte inscrição: “Reencarnação de Emon Saburo”.
A pedra encontrada na mão do bebê ainda pode ser vista no templo número 51, chamado de Ishite-ji (templo da pedra na mão). Mesmo que a pedra seja muito grande para caber nas mãos de um bebê, muitos acreditam que esta é a evidência de que com disciplina espiritual e um coração arrependido, é possível “renascer” ao completar o caminho.
Referências:
http://www.thetempleguy.com/articles/religion/emon_saburo.htm
http://www.japanwelcomesyou.com/cssweb/display.cfm?sid=1297
http://thetempleguy.com/akimeguri/shikoku/index.htm
http://www.mandala.ne.jp/echoes/wright.html
8 thoughts on “O Caminho de Shikoku (四国), a renovação”
Interessante esse ‘Caminho de Santiago’ japonês.
Onde achamos mais referências e informações em português ou francês sobre o caminho?
Boa Tarde é Possível fazer o caminho utilizando Bicicleta? abçs