Matsuri em Sankaterine: o Japão nas cores da Copa Lord
Prestes a se comemorar o centenário da imigração japonesa ao nosso país, o Brasil parece, nestes últimos tempos, ter renovado seu interesse por esse país e esse povo.
A emigração japonesa deu-se por motivos econômicos. Com a Reforma Meiji de 1868, deflagrada pela abertura do país imposto pelo comodoro norte-americano Perry, em 1854, o Japão, até então fechado pelo regime dos xoguns a qualquer contato com o mundo d’além-mar havia quase 700 anos, percebeu seu atraso com relação a outros países: enquanto ficou escrevendo haicais, fazendo arranjos florais e fabricando espadas perfeitas, o mundo conquistara novas terras em todos os continentes e até vizinhas ao Japão, se rendera aos saberes do Iluminismo, derrubara o feudalismo com a Revolução Francesa e vivia já os albores da Segunda Revolução Industrial. O Japão perdera então a revolução política e permanecia no arcaico feudalismo, perdera a corrida por novas terras e teria que se resignar ao exíguo território altamente insulado e não conhecera sequer os benefícios econômicos e tecnológicos das duas revoluções industriais. Tinha então, sede de riqueza e progresso, fome de terras e sua alma de samurai tinha necessidade de poder. Empreendeu então conquistas de terras e duas guerras com esses objetivos: com a China em 1895 e a Rússia em 1905. Venceu a ambas mas ficou com as finanças depauperadas ao extremo. Levas de samurais, cuja classe foi extinta pela Reforma Meiji, que se juntavam a camponeses – não absorvidos pela reforma agrária empreendida pelo novo regime – constituiam grandes contingentes de desocupados, já revoltosos pela penúria. Foi então incentivada a emigração para o exterior: arquipélago do Havaí, América do Norte e América do Sul, principalmente Peru, Brasil e Argentina.
Com a derrota na II Guerra Mundial, que terminou com o macabro episódio das duas bombas atômicas explodidas sobre Hiroshima e Nagasaki, no dia 6 e no dia 9 de agosto de 1945, o Japão abandona a ideologia militarista de expansão territorial e busca o caminho do desenvolvimento social e econômico pelo único caminho possível a um país miserabilizado pela guerra, sem terra para plantio, sem petróleo, sem nenhuma riqueza mineral: educação e tecnologia.
Apenas 25 anos após a derrota incondicional na II Guerra Mundial, a tenacidade e o amor ao trabalho desse povo fez de seu país a segunda potência econômica mundial.
Para nossa cidade, a história desse povo contada e cantada pela comunidade do Morro da Caixa nos candentes versos de “Matsuri em Sankaterini”, reveste-se de especial significado não apenas para nós, florianopolitanos, desterrenses na sua certidão de origem, mas também para todos os japoneses e descendentes que aqui vivem, por ter sido a hospitaleira Nossa Senhora do Desterro, hoje nossa amada Florianópolis, a primeira cidade a ter contato com o povo japonês em 1803, um século antes da vinda do primeiro imigrante.
Congratulo-me com a Escola de Samba Copa Lord que teve a sensibilidade de levar para a avenida a epopéia, a determinação e o trabalho sério desses desbravadores que, recebidos em terras férteis, de clima ameno, sem terremotos, pelo brasileiro cordial e hospitaleiro, aqui plantaram junto com o café brasileiro, a cultura japonesa. E hoje, o Brasil colhe e cultua sua sabedoria, sua crença na excelência do ser humano, sua paciência, sua perseverança. E aqui os japoneses e descendentes colheram a paz, a cordialidade, o respeito e o apreço do povo brasileiro à sua cultura rica e milenar.
Repiquem-se os tamborins, e que soe a batida do surdo.
Que se abram os portais sagrados para o início do espetáculo!
Banzai Brasil! Banzai Japão!