A alma do povo japonês | Introdução
Inúmeros estudos têm sido feitos buscando compreender a personalidade e o pensamento deste povo, acentuadamente após a Segunda Guerra Mundial. Durante este período de beligerância generalizada, o mundo assistiu, entre estupefato e intrigado, a bravura dos soldados japoneses, para quem era preferível a morte à rendição. O mundo não entendia de onde vinha este aguerrido espírito de combate, o que fazia com que jovens de 16 anos se alistassem nas Forças Armadas para pilotar aviões e torpedos suicidas.
As Forças Aliadas ao final da Segunda Guerra destruíram duas cidades japonesas com o que apenas os cientistas conheciam como o mais poderoso artefato bélico concebido pela inteligência humana, porém nunca antes experimentado. Extinguiram o último foco de resistência das potências do Eixo, quando este já se encontrava sitiado com seus mares minados pelo Exército norte-americano. Mussolini já havia caído, Hitler se suicidado e a União Soviética já havia ocupado Berlin. Bombardearam cidades depauperadas pela guerra, populações de miseráveis e famintos. Houve uma clara desproporção entre o aterrador meio de convencimento empregado e o objetivo a ser alcançado. Isto abreviaria a guerra; evitaria mais mortes de ambos os lados – é o que a História registra como argumento dos Aliados.
Após a ocupação, foram suprimidas sua Constituição e suas Forças Armadas. Foi-lhe imposta nova Constituição; portanto, novas leis tiveram que ser elaboradas, sempre segundo a vontade dos países vencedores.
Pela derrota o Japão perdeu os territórios da Coréia, Formosa (Taiwan), Sul da Ilha Sakhalina, ilhas do Pacífico e a Manchúria, devolvida à China¹. No entanto, em vez de ódio os ocupantes receberam respeito; em vez de oposição, gratidão; em vez de rancor, amizade. O povo todo se mostrava otimista e ansioso pela reconstrução de um novo país, passando a absorver avidamente a cultura ocidental. Não havia lágrimas, lamúrias, lamentações nem protestos.
Os jornais da época², anunciavam a necessidade do povo empenhar-se na construção de um novo Japão, condenando a aventura que tinha sido a tentativa de ampliar o império pela força das armas. O jornal Mainichi Shimbun, de Tóquio, cinco dias após o término da guerra e antes que qualquer americano chegasse ao Japão, anunciava que estava disposto a discutir as conseqüências da derrota e as mudanças políticas dela decorrentes, dizendo “tudo foi, porém, para o bem e para a definitiva salvação do Japão”. O jornal Asahi Shimbun, ao lado do Mainichi, um dos de maior circulação em todo o Japão, naquela mesma semana considerou a anterior “fé excessiva na força militar” por parte do Japão como “um erro sério” de sua política nacional e internacional. “A antiga atitude, com a qual ganharíamos tão pouco e sofreríamos tanto, deveria ser abandonada por uma nova, enraizada na cooperação internacional e no amor à paz”.
Como entender este povo??!!
Este pensamento foi estudado pela antropóloga norte-americana Ruth Benedict, a pedido do comandante-chefe da ocupação dos países aliados, o general Douglas Mac Arthur.
Outros estudaram e escreveram sobre o assunto, no entanto, esta obra revela-se de singular importância pelas circunstâncias em que foi escrita.
Após a guerra, capitaneadas pela Doutrina Truman e o Plano Marshall, garantiu-se a recuperação econômica da Europa e nessa esteira, beneficiou-se também o Japão por corporificar, naquele momento, a expectativa do baluarte das forças capitalistas no Oriente, constituindo barreira capaz de se contrapor ao avanço do bloco socialista. Os Aliados tinham, portanto, grande interesse na recuperação econômica do Japão.
Dada a alta responsabilidade da missão, as adversidades envolvidas e tantas idiossincrasias incompreensíveis e estranhas à cultura ocidental, o comandante-chefe houve por bem munir-se de uma espécie de manual de instruções para lidar com o povo japonês, resultando desta necessidade o substancial estudo de Ruth Benedict intitulado “O crisântemo e a espada”.
No Brasil o escritor José Yamashiro, de farta obra sobre a história e cultura do Japão e o niponólogo de profundo conhecimento da alma deste povo, Benedicto Ferri de Barros, escreveram variadas obras sobre o assunto. No entanto, o primeiro escritor brasileiro a escrever sobre o Japão foi Aluísio de Azevedo, o autor de “O cortiço” e outros romances. Aluisio fora designado para ocupar o vice-consulado naquela terra e encantando-se pelas peculiaridades deste povo, ainda no ano de 1897, escreveu obra intitulada “O Japão”.
Este escrito não é um trabalho acadêmico. Na falta de bibliografia mais completa, valemo-nos também de sites da internet, que por si só, não são garantia de fidedignidade No entanto, o objetivo não se prende à riqueza de detalhes, mas levar aos comuns do povo breve relato da etiologia do pensamento do homem nipônico, e neste particular, aclaramos com cuidado as linhas mestras de cada ideologia.
Por certo, estará incompleto e possivelmente eivado de eventuais erros que, apontados, terão nossa gratidão.
Fonte: 1 José Yamashiro – Japão Passado e Presente –2a ed 1986 pg 263, 2 Ruth Benedict – op cit pag 255